Cena escrita especialmente para abrir o show, apresentando os 6 atores da companhia.
TRILHA. TODOS
ENTRAM COM SUAS PLAQUINHAS, NUMA ESPÉCIE DE COREOGRAFIA. PARAM EM C.L. DA
ESQUERDA PARA A DIREITA: ANTONIO,
MARLEI, MAURÍCIO, THEO, MEL E CAFI.
DIRETOR – Que
palhaçada é essa? Isso aqui não é a Chorus Line, não. [TRILHA 1] Não
precisam ficar em fila... Melhor em fila, melhor assim... Bem, eu sou o diretor
desta companhia de teatro, evidentemente vcs já me conhecem, eu sou famoso,
premiado e blá-blá-blá... É bom que vocês saibam que este teste é para
completar o elenco da disputada trupe de atores da cia. QUINTA Q PARIU. À
princípio, não vou enganar vocês, não fui muito com a cara de ninguém. Falta
viço, brilho, presença, carisma... De qualquer forma, eu vou dar um pequeno
exercício pra cada um de vocês, desses bem clássicos de preparação de ator e
espero poder ver algum poro de vitalidade, de personalidade. Primeiramente,
relaxem, deixem o peso cair... [Todos
exageram no relaxamento, querendo fazer tipo pro diretor] Iiiiisso, vamos
lá? O gordinho aí da direita um passo a frente.
Cafi – GORDINHO,
EU????????????????
Diretor – Da MINHA
direita.
Antonio – Não, eu
não sou gordinho, é que eu tô malhando e ganhando massa muscul...
Diretor –
Shiiiiiiiiiiiii... gordinho... Sit. Qual o seu nome?
Antonio –ANTONIO
RIBEIRO.
Diretor – Antonio
Ribeiro, ok! Seu exercício será de expressão vocal. Os atores de hoje em dia
têm dificuldades em “dizer” corretamente uma fala um pouco maior. Respiram mal,
engolem sílabas, não têm domínio técnico. Repita rapidamente e em bom som, logo
depois de mim: [Antonio nunca consegue]
- AS- MAS- DAS- LAS /AR- DAR- BAR- LAR / AL- CAL- MAL-
SAL / LÃ- PAN- FAN- RÃ. Péssimo...
- Na boca de um
beco / Na bica do belo / Um bravo
cadelo / Berrava bau-bau.
- Em um pote há uma
aranha e uma rã, nem a rã arranha a aranha, nem a aranha arranha a rã...
[Pausa] Ai... Você não consegue, não é, Antonio
Ribeiro? Um exercíciozinho tão básico... Todo mundo quer ser ator, mas estudar
pra isso que é bom, são poucos. Pra se pisar num palco é necessário
reconhecimento individual, grupal, espacial... [TRILHA
2] Entrosamento. Disciplinaridade. Memória. Concentração. Confiança.
Habilidade em jogos cênicos. Em
improvisação. Domínio do Corpo, da Voz, da Alma, do Universo... ALELUIA
IRMÃO!!!
Mel: ALELUIA!!! [Todos ficam meio chocados].
A gostosinha do
grupo, um passo a frente! [Mel e Marlei
dão um passo a frente. Pequena pausa. Cafi também dá] Eu disse a
gostosinha... a loirinha... [Mel volta
pro lugar] O queixudinho aí tá gozando com a minha cara??? Volta já pro seu
lugar, titia! [Pra Marlei] Nome?
Marlei – MARLEI
CEVADA. Apresentadora, atriz... E modelo...
Diretor – Pelo
tamanho, modelo de rodapé, não? [Reação
Marlei] Caruda você, não? Sabe andar? [Reação
Marlei, Hellooo!!!] Não to falando andar simplesmente, mas andar
reconhecendo o espaço, sentindo o solo, o pé fincando o chão, a vibração que
isso tem no cosmo, sabe? [Reação] Vai
andar, vai...
Marlei [chorosa] -
Ahhhhhhhhhhhhh, tô dispensada???
Diretor – Não,
múmia, eu quero que vc ande pelo espaço, abrace esse espaço, sinta-o como se
ele fosse seu. Agora eu vou usar códigos: cada número que eu disser vai
corresponder a uma ação. Presta atenção: 1 = pá! [gira] / 2 = gol! [grita] / 3 = atchim!
[espirra] / 4 = deita [e se finge de morta]. OK? Vamo lá: 1 3 2 4 4 3 1 4 2 ...
ai! [O exercício ganha velocidade e
Marlei se confunde toda] Ah, tira a roupa, vai! [Ela trava] Não agora, benzinho, teremos mais tempo pela frente [Ela faz uma careta pra ele e volta pro seu
lugar]. Ora, ora... Gêmeos? [TRILHA 3]
Theo – Não, eu
nasci na semana seguinte! [TRILHA 4]
Diretor – Hãham, vc
sabe que essa gracinha pode sair cara pra vc! Todo mundo sabe que, entre
gêmeos, um é sempre o engraçadinho! E geralmente é gay! O outro... nome?
Mau – MAURÍCIO
SAMPAULO.
Diretor – Vou te
propor o exercício do ESPELHO.
Mau – Posso fazer
com meu irmão?
Diretor –Vc me acha
tão óbvio assim???
Mau – Desculpa...
Diretor – Que
desculpa o que? Por que acha que eu propus o exercício do espelho? Claro que é
com ele. Mas o comando é totalmente dele, e é você quem vai repetir cada gesto
de forma idêntica, eu quero me esquecer de quem está no comando, vão!
[Theo faz gestos de pentear-se, pular, expressar
caretas, abaixar, etc. E, simultaneamente, o Mau repete]
Diretor – OK, ok,
ok... chega! Agora o mais viadinho... [Cafi
dá um passo a frente] Dos GÊMEOS!!! [Cafi
volta pra fila. Mau empurra o Theo pra frente] Nome?
Theo – THEO
RIBEIRO.
Diretor – Theo
Ribeiro, que bom pra vc. Pode voltar pro seu lugar. Começou muito bem.
Ruivinha, sua vez. Ruiva natural? Ahã... Engraçado como vc não se parece em
nada com a foto que eu tenho aqui.
Mel – é que NO DIA
DA FOTO eu fiz escov...
Diretor –
Shiiiiiiiiiiiiii. Pela mudança, no dia da foto, vc deve ter engolido a escova,
não? Nome?
Mel – MELISSA
COMUNALLE. Atriz.
Diretor – É, o
mundo realmente tava precisando de mais uma atriz. Pra vc eu ia propor o
exercício da estátua que objetiva o conhecimento da técnica do estático, muito
útil em dramatizações. Mas como eu tô vendo que vc já parece meio parada de
natureza, eu vou trabalhar suas expressões num nivel de sentimentos humanos,
percebe? Sinta cada palavra que eu vou dizer e manifeste-a de acordo com seus
sentimentos mais profundos, ok? [Mel
exagera várias caras e bocas] Mostre-me... alegria, tristeza, medo, ira,
orgulho, cinismo, desanimo, NÃOOOOOOOOOO!!! Menina, você tá OVER! Relaxa essa
cara! Concentra. Não pensa no sentimento, simplesmente SINTA! De novo! [Mel fica tão travada que não mexe um
músculo] Alegria, tristeza, medo, ira, orgulho, cinismo, desanimo...
Issooooooooooo, começo a achar algo em vc, ruivinha... Falta mais alguém nesse
grupo? [Cafi dá um passo a frente]
Cafi – FARIELLO.
CARLOS FARIELLO.
Diretor – OK,
Fariello Carlos Fariello. Pela pinta vc me parece hiperativo. Ou hiperpassivo,
não sei. Seu exercício vai ser de RELAXAMENTO. Eu quero ver sua capacidade de
limpar este seu vazio interior – que me parece ser bastante grande - pra dar
espaço às características do personagem, ok! Vamolá! [TRILHA
7] Calma, relaxa. Respira profunda e suavemente. Sente a planta do pé.
Solta essa calota. Afrouxe pernas, joelhos, abdomem, imagina uma grande nuvem
envolvendo seus órgãos digestivos, seu sexo... Tira do rosto qualquer ruga de
preocupação... Eu disse: tira do rosto qualquer ruga de preocupação... Percebo,
Fariello, a coisa da idade! Relaxa o couro cabeludo – sinta seu coro cabeludo,
converse com ele. Vc pergunta e ele responde... Boceje, espreguice, relaxa
tórax, ombros, nuca... [F dorme]
Agora, Fariello, vamos... Fa, Fariello... Fariello... FARI-E-LLO. [F acorda assustado] Ah, mas tá difícil
tirar algo de bom desse grupo, não? Que decepção!
Bem, de longe já percebo que ninguém aí
está capacitado para uma vaga neste elenco... Mesmo assim, pra compensar as horas
de fila que vocês enfrentaram desde o início do dia e com uma certa pena da
cara de fome de cada um de vcs, eu vou dar uma chance – o que não acontece todo
dia, que fique bem claro. Prestem atenção: na próxima hora eu quero ver vocês
em cena, fazendo o que sabem, ou o que pensam que sabem. Se exponham, se
coloquem, me conquistem. Façam-me enxergar algo além do pouco que vejo. Ok?
VAMOLÁ!!! MERDA! [TRILHA 8]
Todos - MERDA... Merda...
Alguém – Vai
ser...!