PROFISSIONAL DE FUTURO

Para Gui Paiva e Murilo Cunha.

Vamo combiná: tô novo, tô bonito!

Mas até quando isso vai? Sim, meu, tô me questionando... Desde que eu falei “vamo combiná” já se passaram 3 segundos que eu já perdi e que eu não recupero mais!

Desde o dia em que deixei minha cidade pra “vencer na capital”, eu jurei pra mim mesmo que eu faria valer à pena. Eu que não ia acabar como todos os colegas da classe ou os amigos do clube rural que eu freqüentava. Porque lá é tudo igual desde o início dos tempos:

Quem tem pai rico, pouco faz, pouco realiza. Só fica naquela de herança, boa vida e o cacete.

Quem tem pai pobre, faz menos e ainda menos realiza.  E arrasta vida afora a desculpa de que “não tive berço, não tive chance”, blá-blá-blá e o cacete.

Bem, cacete por cacete, eu resolvi botar o meu na roda.

O velho queria que eu assumisse os negócios dele. Helloooooooooo!!!??? Plantação de algodão, semente, colheita, mão na terra? Tô fora! Pra mim só o algodão doce! Ou então um bom lençol 300 fios...

Chegando na capital, eu tava disposto a dizer a que vinha. Depois do habitual aluguel de vagas para moços de fino trato, compra de todos os jornais em busca de um emprego, 170 currículos enviados e dezenas de testes psicotécnicos aquela empresa da Av. Paulista me chamou. Que sorte eu não ter que pegar um ônibus pra chegar na Penha, no Pari, no Perus pra trabalhar...

Valeu a educação em colégio pago, valeu o intercâmbio cultural... Ah, que bom! Pouco tempo de São Paulo e já empregado com carteira assinada e tudo.

OK, confesso que sei que me chamaram muito menos por meus dotes intelectuais, criação, diploma e o cacete e muito mais pelo meu cacete em si.

Sim, o carinha do RH me lambia com os olhos, chegou a dar a maior bandeira quando, ao me entregar a ficha a ser preenchida, deixou, TODO TRÊMULO, a caneta cair bem no meio das minhas pernas – abertas, de onde os olhos dele não saíam. Eu disse bem malicioso: “pega aí!” Ele pegou! Conclusão: papei os dois! Acabei comendo a bicha e ganhei o emprego.

Comi, comi, comi, comi, comi, comi, COMI... até a bichinha pedir arrego.

No primeiro mês de trabalho, percebi que o interiorano aqui tava fazendo sucesso na capital. A recepcionista – uma ruivinha gostosa - me dava lance. A mina do café – uma morena jeitosa – me dava lance. A assistente do meu chefe começou me dando mole no primeiro dia. Uma semana depois, no próprio apê dela, já tava me dando tudo.

Ou eu tô gostoso mesmo ou esses jeans me favorecem pra caralho!!!

Trepei, trepei, trepei, trepei... não acabei ainda... trepei, trepei, TREPEI... essa não me larga mais! É ela quem me passa os trabalhos que devo fazer. E sempre releva quando, por algum motivo, eu me atraso ou entrego algo incompleto, errado... Ora, também não sou obrigado a ser competente em tudo, né?

Meu chefe, um já-grisalho de 30 e poucos, é do tipo moderno. Bonitão, malhadão... Me pediu todo cheio de dedos que não comentasse com ninguém que eu tinha cruzado com ele na “The Week”. Eu, cheio de malícia pro lado dele, perguntei: “o que eu ganho se não comentar?” Hehe... por falar em dedos...

Dei, dei, dei, dei, dei... não acabei ainda... dei, dei, DEI gostoso pro chefinho... Ah, meus caros, esse emprego eu não perco mais.

Tenho culpa de ser competente? Eu acho que, mais do que nunca, o que o mercado está buscando são profissionais bem menos segmentados, tão sabendo?

Você tem que SABER de tudo! Ou um pouco de cada coisa.
Você tem que FAZER de tudo! Ou fazer tudo pra fazer bem.

Hoje, eu trabalho pra cacete na tal empresa da Av. Paulista. Não pensem vocês que é só frege que rola por lá. Ultimamente ando bem afins de uma estagiária novinha, gostosinha que pintou por lá. Mas cada vez que eu pego aquele gostoso do Anderson - o menino do Xerox – ah... meu bem, eu chupo, chupo, chupo, chupo... não acabei ainda... chupo, chupo, CHUPO até ele se definhar...

É... Empresas modernas, profissionais liberais...

Qualquer dia, a reunião de diretoria vai rolar em plena passeata GLBT.

E nós que somos minoria? Sei...