Adaptação do stand up "Nocaute", de Marcelo Mansfield,
apresentado pelo próprio
Boa noite, pra quem não me conhece meu nome é Marcelo Mansfield, tenho 41 anos, 73 kilos e sou do signo de virgem. Pra quem me conhece, meu nome é Marcelo Jackson Pacheco, tenho 52 anos, tô pesando 107 kilos e tô voltando a ser virgem. Ou seja, eu já não saio mais na capa de QUEM, eu saio na capa da GLOBO RURAL.
Enfim,
mas hoje eu estou aqui pra falar com vocês algo sobre mídia. E vim pensando no
caminho: o que, afinal de contas, é mídia?
O
termo “mídia” vem de média e quer dizer “meio”... fazer uma média, uma
meia-média, uma meia-hora... Pra mim, média parece metade, ou ainda, parece
algo no meio. “Minha média de idade é meio século...” “Vou pedir uma média com
pão-e-manteiga...” Eu vou deixar estes questionamentos em aberto porque eu não
vim aqui pra fazer média...
Bem,
falando um pouquinho de mim: eu sou de uma época em que não tinha revista
ÉPOCA. Minha mãe era um tipica mãe inglesa, muito presente, que gostava de
trocar fralda, dar banhinho... Meu pai não, essa coisa de trocar fralda não era
com ele. Pra não mentir, uma vez minha mãe perguntou se ele queria trocar o
bebê e ele disse: “Sim, por uma tv a cores!” Naquela época não tinha
revista CRESCER pra educar as pessoas. Ou seja, naquela época não tinha nem
ÉPOCA nem CRESCER. É claro que, hoje em dia, com os ensinamentos e as dicas da
revista CRESCER, os pais ficam muito mais presentes, mais unidos.
Em
compensação, eu tive uma infância maravilhosa, eu morava num bairro lindo,
minha casa parecia a capa de uma CASA & JARDIM. Eu morava com minha família
(pai, mãe, irmão) mais minha avó. Eu lembro que, quando eu tinha 14 anos, eu
falei pra minha avó: “Vó, posso ir no puteiro?” Ela disse: “O que é isso,
menino, vai estudar!” Quando eu fiz 16 eu perguntei de novo: “Vó, posso ir no
puteiro?” E ela: “Já pro seu quarto!” Aí quando eu tinha 18, já não tinha
mais como segurar, eu falei: “Posso ir?” E ela falou: “Pode. Vem!”
Eu
estava lendo MARIE CLARIE agora pouco no camarim. Aí foram me servir um café e
me olharam com uma cara! Vamos combinar que qualquer homem que seja pego lendo
uma MARIE CLAIRE vai ficar com fama de viado, não vai? Isso é uma bobagem
porque, por exemplo, eu não gosto de homem e leio MARIE CLAIRE. Só pra deixar
bem claro: eu NÃO gosto de homem. Como, mas não gosto!
Por
falar em viado, o que a gente – do teatro - mais gosta de fazer é viajar com
alguma peça, alguma produção. Eu pego uma AUTO ESPORTE, vejo os testes, vejo os
mapas e saio cortando o estradão... Já viajamos muito. Fomos para Porto Alegre,
Curitiba, Salvador, Pau Grande... Vocês sabiam que existe uma cidade
chamada Pau Grande? É verdade, joga no Google. Famosa por causa do Garrincha e
também por conta de sua geografia... Aliás, a revista GALILEU fez uma matéria
linda sobre Pau Grande..., a cidade..., justamente falando sobre isso, sobre o
seu leito propenso a extração do petróleo, suas fontes de águas sulfurosas
curativas... GALILEU de fevereiro... não, de março..., fevereiro. Pau Grande,
taí uma coisa que eu gosto: ler a revista GALILEU!
Depois
de conhecer a fundo Pau Grande inteiro, fomos pra Europa, pra eu me apresentar
em Lisboa. Quando a gente chegou lá, a gente soube que um grupo de arqueólogos
portugueses descobriu nos substerrâneos da Avenida Liberdade uma mumia de 6
milhões de anos em perfeito estado de conservação. Isso não é uma maravilha?
Aliás, eu li hoje na MONET – que é minha revista de cabeceira - que, na
próxima segunda feira por volta de 8:30h da noite vai passar um documentário
sobre essa mumia na tv a cabo. Quem não tiver tv a cabo liga no SBT que tem a
Hebe!
Aliás,
gente, falando da MONET... as matérias de cinema são maravilhosas e eu adoro
cinema. Eu descobri o que eu queria fazer na vida no cinema, quando fui
assistir “A Noviça Rebelde”. Na abertura do filme aparece a Julie Andrews
correndo e cantando lindamente pelas alpes suiços... (canta) “The hills are alive in the sound of music...” Puxa,
isso me emociona... aí eu disse pra mim mesmo: é isso o que eu quero fazer na
vida. Ser freira!
Aliás,
vou falar uma coisa: quem não se atualiza lendo PEQUENAS EMPRESAS, GRANDES
NEGÓCIOS acaba dançando. Eu vejo isso no meu meio, pode prestar atenção: é só a
carreira dar uma escorregada, a pessoa resolve se enfiar no filme pornô. Falta
de planejamento! E quem tá fazendo filme pornô hoje em dia? Gretchen. Vamos
combinar: Gretchen não é pornô, é terror! Rita Cadillac, o sobrenome dela não
fabrica mais... Sério, eu li na AUTO ESPORTE, não tem mais Cadillac... Tivessem
lido uma boa revista CRIATIVA que fala de tudo sobre moda e comportamento, não
teriam entrado numa fria dessas. Porque é fria! Vocês já repararam que, em
filme pornô, só subalternos se dão bem? É o entregardor de pizza, o mecânico, o
motoboy... Eu já liguei 12 vezes pro Bella Pizza, engordei 30 kilos e ninguém
me comeu...
Enfim,
como esse evento é uma homenagem aos mídias, esse povo que a gente ama (até
porque são eles quem fazem a grana circular), eu fiquei pensando o que seria
das publicações da Editora Globo se não fossem vocês.
Sim,
o que seria de cada revista se não fossem os mídias?
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ÉPOCA seria PASSADO (não seria nem ÉPOCA, seria um MINUTINHO!)
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QUEM seria NINGUÉM - ou seja NINGUÉM teria a menor importância para ser QUEM
quer que fosse...
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MARIE CLAIRE que soa tão francesa,
rica e poderosa seria MARIA CLARA, uma coitadinha desdentada qualquer!
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CRIATIVA seria IMPOSTORA (praticamente uma novela mexicana!)
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CRESCER seria DIMINUIR. Óbvio...
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CASA & JARDIM não passaria de MUQUIFO & QUINTAL...
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AUTO ESPORTE seria uma carrinho de supermercado...
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PEQUENAS EMPRESAS, GRANDES NEGÓCIOS seria algo como GRANDES SONHOS,
DECEPÇÕES AINDA MAIORES!
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GLOBO RURAL seria CARROÇA SEM RUMO.
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MONET não passaria de um pintor de paredes, e
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GALILEU se transformaria em GALISTEU!