Há mais de 150 anos nascia um alemão completamente fora do padrão, bem diferente da imagem que temos do típico cidadão daquele país. Ele viria a se tornar artista de circo, ator de teatro, guitarrista e cantor do mais puro cabaré satírico. Mas, apesar de uma obra literária expressiva, foi com uma peça então classificada como subversiva que Frank Wedekind, o tal alemão, se tornou um nome importante no teatro mundial, inclusive sendo apontado como referência por Bertold Brecht que viria, na sequência, se tornar outro ícone da dramaturgia.
“O Despertar da Primavera”, a peça em
questão, retrata a juventude e seu famoso rito de passagem da infância para a
adolescência. Qualquer pessoa na altura de seus 15 anos de vida pode se
conectar a essa estória, se envolver e, de repente, até se identificar.
Sim, afinal ela retrata a opressão da
qual todo adolescente geralmente foge, a influência nada leve de instituições
igualmente pesadas como família, escola, igreja e ah... a deliciosa
descoberta do sexo!
No Brasil, algumas montagens foram
particularmente importantes como a de Paulo Reis no final dos anos setenta, a
do Grupo Boi Voador de Ulisses Cruz na década seguinte e a do Tablado, com
direção de Cacá Mourthé e revelaram nomes até hoje atuantes no mercado
como Miguel Falabella, Zezé Polessa, Maria Padilha, Angelo Antonio, Marcos
Winter e Claudia Abreu.
Porém, de cinco anos pra cá,
resolveram que a estória daria um bom musical. E deu! Pelo menos oito
cobiçados Tonys, uma espécie de Oscar/Grammy/Emmy do teatro americano, a
quem acreditou e investiu na idéia. Pelas mãos da dupla Duncan Sheik e Steven
Sater fez-se a transformação da estória de Wedekind em musical.
Outra dupla, esta brasileira,
resolveu investir na mesma ideia. Charles Möeller e Cláudio
Botelho apresentam em São Paulo sua versão onde, segundo eles,
predominou a liberdade – a mesma almejada pela estória original. A montagem é
correta e, por vezes, emociona. A técnica é apurada e não faz feio diante da montagem
da Broadway. Parece que, finalmente, o musical made in Brazil
começa a ganhar fôlego.
O elenco apresenta um casal de atores
(Eduardo Semerjian e Débora Olivieri) que se multiplicam em personagens
adultos e mais 19 "adolescentes" bem na linha soap-opera-Malhação:
bonitinhos, meigos e simpáticos que cantam afinados e seguem, como bons
alunos, a direção proposta. Mas quem explode mesmo em cena é o jovem ator
Rodrigo Pandolfo, que representa através de seu Moritz o medo, o tormento, a
dor e toda a gama de sentimentos à flor da pele que a juventude
invariavelmente vive. A performance do coadjuvante, quase um antagonista,
encanta e conquista. Não à toa, foi indicado ao Prêmio Shell por outra
peça, “Cine-Teatro Limite”. Atentem a ele.
Vale a pena conferir a universalidade
que “O Despertar da Primavera” proporciona. A versão musicada só fez crescer
a obra daquele alemão estranho. Brecht acertou na previsão!
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