INIMIGOS


(Marcelo Mansfield e Carlos Fariello)

Som de festa. Marcelo entra com um drink à mão. Carlos, idem.

M: Carlos Alberto!

C: Marcelo, como vai?

M: Sempre bem.

C: E eu, melhor!

M: Prazer enorme te encontrar aqui na festa da Lorena. Você, que eu vi crescer. E
você foi crescendo, crescendo até se tornar este monstro de pessoa.

C: Bondade sua, Marcelo. Mas à medida que eu crescia, você engordava.

M: É! E, enquanto eu engordava, seu queixo crescia...

C: E enquanto meu queixo crescia, seu cabelo caía!

M: Ainda posso me lembrar muito bem de você... Desde pequeno, brincando com
seus “amiguinhos” na rua.

C: É, na rua onde nós dois morávamos!

M: Eu, na parte alta!

C: Exatamente. Bem onde havia aquela feira-livre na porta da sua casa toda
sexta-feira.

M: Ora, na frente de casa só se vendia artesanato.

C: E desde quando “peixe” é artesanato?

M: Ora... Mas, o que você me conta? Alguma novidade?

C: Sim... aquele cliente que disputamos à tapa. Ganhei a conta dele e já estou
trabalhando a todo vapor.

M: Interessante... Afinal, eu sei que ele vendeu a empresa e se mudou pro
Canadá!

C: Mas... e você? O que me conta de novo?

M: A Beatriz... sua grande paixão. Passamos janeiro inteiro juntos, na Riviera de
São Lourenço!

C: Engraçado. Justamente em janeiro eu me casei com ela e, durante nossa lua-
de-mel, ela não me contou nada!

M: Ora, larga a mão de ser hipócrita.

C: E você, um mentiroso de baixo nível.

M: Não fala assim que eu...

Música de ação. Começa a mímica da briga entre os dois:

M: joga a peruca

C: joga a lente de contato

M: joga a dentadura

C: joga o par de brincos

M: arranca o sutiã

C: arranca as unhas e as joga uma a uma

M: arranca a meia-calça

Os dois se pegam pelos cabelos. Nisso a música pára! Recompondo-se, finalizam:

M: Ai, vamos tomar um café?

C: Uh, dou tudo por um café...


Saem abraçados.