PROCURA-SE CARRO NO ESTACIONAMENTO
(Estacionamento de um shopping. Cena entre uma executiva e o atendente do local. Ela está bem nervosa. Ele, sempre calmo, alterna observações ora muito simples, ora muito inteligentes)
ELA – Moço, me ajuda? Não encontro meu carro...
ELE – Ora, basta a senhora ir a uma concessionária, escolher modelo e cor e comprá-lo.
ELA – Eu já fiz tudo isso. Eu não encontro ele aqui no estacionamento do shopping.
ELE – A senhora perdeu seu carro?
ELA – Não perdi, simplesmente não o encontro.
ELE – Mas onde a senhora o deixou?
ELA – Se eu soubesse eu não o teria perdido.
ELE – Mas a senhora acabou de dizer que não o perdeu.
ELA – Por quê o senhor não tenta me ajudar ao invés de tentar me enlouquecer?
ELE – Desculpe, não foi minha intenção. Eu só não entendi...
ELA – (cortando-o) Ouça! Eu vim ao shopping pra procurar meu celular que eu esqueci numa loja ontem, só que eu não me lembro qual loja era porque eu andei por várias delas. Como eu tenho uma reunião muito importante daqui a pouco, eu resolvi esquecer o celular e voltar pro trabalho. Só que eu cheguei aqui no estacionamento e não encontro meu carro. Eu estou sem meu celular, sem meu carro e daqui a pouco vou ficar sem meu emprego...
ELE – Eu não entendi muito bem, a senhora esqueceu seu celular aqui no estacionamento?
ELA – Não, numa loja!
ELE – A senhora esqueceu uma loja aqui no estacionamento?
ELA – NÃÃÃOOOO, o celular eu esqueci na loja!
ELE – Que loja?
ELA – Se eu lembrasse eu não estaria aqui falando com o senhor!
ELE – A senhora esqueceu a loja?
ELA – Sim.
ELE – A senhora esqueceu o celular?
ELA – Sim.
ELE – A senhora esqueceu o carro?
ELA – ???
ELE – A senhora lembra de ALGUMA coisa?
ELA – Meu senhor, eu posso estar parecendo idiota, mas eu não sou, ouviu?
ELE – Mas eu não disse que a senhora parece idiota. Até porque parecer... a senhora não parece!
ELA – O senhor está querendo dizer que eu sou uma idiota, embora não pareça?
ELE – (confuso) Ih, agora eu que me perdi. A senhora podia ajudar a me encontrar?
ELA – (alterando a voz) Como o senhor conseguiu esse emprego, hein? Por acaso, passou por algum teste psicotécnico?
ELE – Não, não passei, não...
ELA – Até porque, se tivesse passado pelo teste, não teria passado NO teste... (se sente meio idiota)
ELE – (irônico, balançando seu celular) Pelo menos eu sei onde meu celular está, ó!
ELA – É, meu senhor, a idiota aqui sou eu. Mas será que o senhor poderia ajudar essa idiota a encontrar seu carro?
ELE – Tamos aqui pra isso. Vamos ver... (começa a anotar) Então a senhora não sabe qual o andar do estacionamento a senhora deixou seu carro?
ELA – Por quê? Tem mais de um andar de estacionamento nesse shopping?
ELE – Tem cinco. A senhora não sabe em qual corredor deixou?
ELA – Não.
ELE – Não sabe qual a cor?
ELA – Não.
ELE – Nem a letrinha?
ELA – Não.
ELE – Nem o número depois da letrinha.
ELA – Como?
ELE – Tipo: estacionamento do 2º andar, corredor Verde, vaga E6.
ELA – EU NÃO SEI NADA DISSO!
ELE – (professoral) Bem, provavelmente a senhora também não sabe que já existe um aplicativo de celular que, conectado ao automóvel, grava a informação sobre sua localização...!
ELA – (muito irônica, enlouquecendo) Puxa, que bom saber disso! O que o senhor está me dizendo, do alto de toda essa sua sabedoria inútil, é que se eu tivesse o maldito aplicativo do maldito celular conectado no maldito carro eu não estaria aqui na sua frente ouvindo esse monte de bobagens porque eu já teria descoberto em qual andar, qual corredor, qual cor, qual letrinha e qual numerozinho procurar...
ELE – Não, senhora, mesmo que a senhora tivesse tudo isso, não ia descobrir onde o carro está.
ELA – E POR QUÊ NÃO?????????????????
ELE – Porque o aplicativo não funciona em estacionamentos fechados ou subterrâneos.
LONGA PAUSA. AMBOS SE OLHAM DE CIMA A BAIXO COMO QUEM PENSA “NÃO HÁ SOLUÇÃO”.
ELA – (depois de respirar profundamente, muito calma) O que o senhor me propõe fazer?
ELE – Acho que o único jeito é esperar o shopping fechar. O carro que sobrar no estacionamento provavelmente vai ser o da senhora.
ELA – E o shopping fecha às...?
ELE – 22 horas!
ELA – Ou seja, daqui a sete horas.
ELE – (checando seu relógio) Sim...
ELA – Meu senhor... (com ódio) Não me faça perder a cabeça!
ELE – Claro que não... A senhora acabou de perder o celular... a loja... o carro... talvez até seu emprego, não é?
ELA – Pois é...
ELE – Então... eu acho que a cabeça a senhora já perdeu faz tempo!
ELA – (com muito, muito ódio dele) AIIIIIIIIIIIIII!!! (sai correndo atrás dele)